sábado, 26 de junho de 2010

Cadê Eu? por Rica Benozzati


Cadê EU?




Tudo ao mesmo tempo agora me preenche, me ilude, me conforta, o fato de trabalhar remotamente, acessando meus quatro e-mails, twitter, facebook, foursquare, sms, linha de telefonia e radio fez de min um escritório móvel, ambulante, produtivo e divertido.



Poder parar em algum intervalo e tomar um café com um amigo que me viu pelo foursquare e estava ali perto no meio do agito me parece legal, já diria Bauman que a conectividade não deixa mais nenhum dos seres humanos de classe média que podem pagar um pacote de dados sentirem-se sós.



Como não é novidade de tempos em tempos, me rendo novamente a tecnologia, lap-tops travados, telefones roubados, mas há muito isso já não acontecia meu inseparável blackberry tornava-se cada dia mais útil, atualizado, poderoso, aconhegante e amigo.



Mais do que estar junto com todo mundo é saber o que todo mundo esta fazendo, sem ter tanta proximidade, caindo num abismo perigoso de egoísmo e curiosidade.



Perdi meu blackberry em uma noite daquelas que agente twitta, faz upload de fotos e fica enviando bbm para os amigos ali ao lado, ou do outro lado da pista.



Acordar e não ter mais esta “proximidade” com ninguém me pareceu sufocante, senti-me excluído, banido, distante.



Se nossos smartphones são nosso rabinhos de “Avatar” que nos linkan com o mundo, trabalho, amores e amigos o que teria sido da poesia, das cartas de amor e dos longos tempos de espera pelo amado? O que seria da minha Mãe que amava o João Afonso que morava na Grécia? O que seria da minha família de imigrantes italianos se reportando aos familiares que ficaram na Itália? Como seria a receptividade sobre a carta do descobrimento do Brasil?



Distancias encurtadas, mundo globalizado, conexão na rapidez de um click, parece libertador, mas quando me pego assim sem meu quadradinho preto de plástico quase sinto-me sem personalidade, como se esta fosse criada por ele, e eu um personagem virtual.



Consegui almoçar hoje com amigos, esforçando-me para lembrar o numero do meu melhor amigo, e pior, ligando de um orelhão. Quis voltar para casa, para pensar nos caminhos que a tecnologia nos conduz, chateado, impossibilitado de inúmeras oportunidades para um sábado, novamente sozinho.



Amo a tecnologia, amo receber mensagens de pessoas que nem me conhecem mas se sentem próximas as coisas que digo e penso, mas o exercício do silencio e de redescobrir como curtir você mesmo, sem muita bobagem de twitter é inovador!



Mas apesar de tudo, beijo e me Twitta, porque segunda to com meu aparelho novo!



Do intergaláctico Rica Benozzati